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blog sobre Economia.

sexta-feira, abril 07, 2006

Turbulences - 24 heures dans le marché global


Para filmar este documentário em 1997, a diretora canadense Carole Poliquin (foto) viajou pelo mundo: Paris, Québec, Ontário, Chiapas, Senegal.

Na Tailândia, enquanto o secretário do Comitê de Investimentos do país afirma que o welfare-state é um problema (pois se o povo ganha bem demais e se "seu povo vive muito confortavelmente, então seus produtos não são competitivos"), as sobreviventes do incêndio que matou 188 trabalhadoras em uma fábrica de brinquedos fazem um misto de cerimônia e manifestação em memória das colegas falecidas. Tumthong, uma dessas sobreviventes, relata: "Os empregadores nos dizem: se vocês reivindicarem demais, nós nos mudaremos para Laos. E se eles forem mesmo - porque lá os salários são mais baixos - então nós perderemos nossos empregos."

A realizadora sabe mesclar esses e outros depoimentos com habilidade, evitando as armadilhas da demagogia. O resultado é um vídeo de 53 minutos, tão acessível quanto contundente ao refletir acerca do poder dos mercados financeiros sobre a vida das pessoas comuns, nesta época em que a hegemonia da lógica e da esfera financeiras na atividade econômica chegou também ao próprio debate econômico. Basta observar que, na maioria das vezes, o noticiário econômico só começa a falar em crise a partir do momento em que indicadores da movimentação e da valorização dos ativos financeiros sofrem alguma deterioração. Ou seja, é como se, mesmo com os trabalhadores em condições precárias, com o enorme contingente de desempregados etc., a citada Tailândia (ou o Brasil), por ser um mercado emergente, de produtos competitivos, fosse então o melhor dos mundos.

Especialistas em mercado financeiro como Pablo A. Riverroll, do México, marcam presença no documentário definindo o que atualmente se considera investimento de longo prazo: 1 mês. A fala do economista italiano Ricardo Petrella é ainda mais reveladora. Segundo ele, a economia mundial "está dominada por uma ordem do dia que enxerga apenas o hoje, o curto prazo. O longo prazo não existe na economia de mercado. Mas uma sociedade sem cultura de longo prazo não é uma sociedade. Uma sociedade que não prevê o que fará com seus idosos, ou o que será de seus rios dentro de 30 anos? Uma sociedade sem cultura de longo prazo é a selva".
Então esse poder sem precedentes dos mercados financeiros constitui uma ameaça à democracia? Petrella afirma: "Hoje em dia, quem fixa a ordem do dia, onde investir, como e qual é a política pública em termos de infra-estrutura, de investimentos, de educação? São os mercados financeiros. Porque de agora em diante não haverá mais países, nem sociedade. Como disse Thatcher: 'There's no such a thing as a society', há apenas mercados."

Com seu estilo claro, direto e conciso, o filme de Carole Poliquin é, como bem definiu a crítica do L'aut' journal, "uma dose cavalar contra nossa incompreensão do mundo atual".


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Links:

* Assista a trecho do documentário.
* Veja galeria de fotos.
* Adquira o filme.



Leia trecho da fala do economista Jim Standford em Turbulences:
"A crise do peso é um exemplo interessante do que acontece quando a economia do papel sai de controle. O presidente do FMI afirmou que era a primeira crise monetária do século XXI e tem razão, e veremos outras. No caso do México, o governo fez tudo certo, tudo o que os mercados financeiros queriam: reduziram o déficit, reduziram os programas sociais, os gastos, privatizaram, e até firmaram o tratado de livre comércio, o Nafta. Fizeram o essencial para os mercados financeiros, e o que aconteceu? O México conheceu um grande influxo de capitais. Porque os investidores amaram o que estava acontecendo. Mas esse dinheiro não foi parar na economia real. Foi parar na especulação sobre os mercados financeiros mexicanos. Como resultado, bastou um rumor sobre desvalorização no México e bilhões de dólares deixaram o país subitamente, e a economia mexicana ficou devastada.
Os mercados financeiros adquiriram vida própria, eles criaram uma economia própria, uma economia de papel que cobre a economia real. Pois eles descobriram que é possível fazer muito dinheiro apenas comprando e vendendo papel, incomparavelmente mais dinheiro do que se pode ganhar através de investimentos reais."