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blog sobre Economia.

quinta-feira, abril 13, 2006

Um antigo debate sobre política monetária

O texto abaixo foi extraído de Introdução à economia, de Gregory Mankiw (São Paulo, Pioneira Thomson Learning, 2005).

O mágico de Oz e o debate da prata livre

     Quando criança, você provavelmente assistiu ao filme O mágico de Oz, baseado em um livro infantil escrito em 1900. O livro e o filme contam a história de uma menina, Dorothy, que se vê perdida em uma terra estranha e distante de casa. O que você provavelmente não sabe é que a história é uma alegoria sobre a política monetária dos Estados Unidos no fim do século XIX.
     De 1880 a 1896, o nível de preços na economia dos Estados Unidos caiu 23%. Como esse foi um fato inesperado, levou a uma grande redistribuição de riqueza. A maioria dos agricultores do Oeste do país estava endividada. Seus credores eram os banqueiros do Leste. Quando o nível de preços caiu, o valor real dessas dívidas aumentou, enriquecendo os bancos à custa dos agricultores.
     De acordo com o políticos populistas da época, a solução para os problemas dos agricultores estaria na livre cunhagem da prata. Durante esse período, os Estados Unidos operavam com o padrão ouro. A quantidade de ouro determinava a oferta de moeda e, como conseqüência, o nível de preços. Os que defendiam a prata livre queriam que tanto a prata quanto o ouro fossem usados como moeda. Se adotada, essa proposta teria aumentado a oferta de moeda, elevando o nível de preços e reduzindo o encargo real das dívidas dos agricultores.
     O debate a respeito da prata foi acalorado e representou um aspecto central da política da década de 1890. Um slogan eleitoral comum dos populistas era "Estamos hipotecados. Tudo, menos nossos votos". Um proeminente defensor da prata livre foi William Jennings Bryan, o candidato democrata à presidência em 1896. Ele é lembrado, em parte, por causa de um discurso na convenção de nomeação do Partido Democrata, em que disse: "Vocês não devem pressionar a fronte do trabalhador com esta coroa de espinhos. Vocês não devem crucificar a humanidade em uma cruz de ouro". Raramente, desde então, os políticos trataram tão poeticamente as alternativas de política monetária. Ainda assim, Bryan perdeu a eleição para o republicano William McKinley e os Estados Unidos mantiveram o padrão ouro.
     L. Frank Baum, ator do livro O mágico de Oz, era um jornalista do Meio-Oeste americano. Quando decidiu escrever uma história para crianças, ele fez os personagens representarem os protagonistas da maior batalha política da época. Embora os comentaristas modernos do livro divirjam um pouco sobre a interpretação dada a cada personagem, não restam dúvidas do fato de que a história destaca o debate sobre política monetária. Eis como o historiador econômico Hugh Rockoff interpreta a história, na edição de agosto de 1990 do Journal of Political Economy:

DOROTHY: Tradicionais valores americanos
TOTÓ: Partido proibicionista, também conhecido como partido que prega a abstinência do álcool
ESPANTALHO: Fazendeiros
HOMEM DE LATA: Trabalhadores da indústria
LEÃO COVARDE: William Jennings
Bryan
MUNCHKINS: Cidadãos do Leste
BRUXA MALVADA DO LESTE: Grover Cleveland
BRUXA MALVADA DO OESTE: William McKinley
MÁGICO: Marcus Alonzo Hanna, presidente do Partido Republicano
OZ: Abreviatura de onça de ouro (medida de peso do ouro)
ESTRADA DE TIJOLOS AMARELOS: Padrão ouro


     No final da história de Baum, Dorothy consegue encontrar o caminho de casa, mas não só seguindo a estrada de tijolos amarelos. Após uma jornada longa e perigosa, Dorothy percebe que o Mágico é incapaz de ajudar a ela e a seus amigos. Em vez disso, a menina finalmente descobre o poder mágico de seus sapatinhos de prata (quando o livro foi transformado em filme, em 1939, os sapatinhos de Dorothy passaram de prata para rubi. Os cineastas de Hollywood estavam mais interessados em exibir a nova tecnologia do Technicolor do que em contar uma história sobre a política monetária do século XIX).

     Embora os populistas tenham perdido o debate sobre a livre cunhagem de prata, eles finalmente obtiveram a expansão monetária e a inflação que desejavam. Em 1898, exploradores descobriram ouro próximo ao rio Klondike, no Yukon canadense. O aumento da oferta de ouro veio também das minas da África do Sul. Como resultado, a oferta de moeda e o nível de preços começaram a aumentar nos Estados Unidos e em outros países que operavam sob o padrão ouro. Em 15 anos, os preços nos Estados Unidos voltaram aos níveis da década de 1880, e os agricultores se encontraram em melhor posição para lidar com suas dívidas.

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Links sobre o assunto:

* Teach with movies - The wizard of Oz
* "The wizard of Oz as a monetary allegory" by Robert F. Mulligan, Ph.D., Western Carolina University College of Business