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blog sobre Economia.

quarta-feira, junho 07, 2006

Dia dos namorados e a teoria da sinalização

     Um homem está decidindo o que dar a sua namorada no dia 12 de junho: "Já sei", pensa ele, "vou lhe dar dinheiro. Afinal, não conheço seu gosto tão bem quanto ela mesma e, com o dinheiro, ela pode comprar o que preferir". No entanto, quando ele lhe entrega o dinheiro, ela se ofende. Convencida de que ele não a ama, termina o namoro.
     O que a economia tem a ver com isso?
     Se você parar para analisar, dar presentes é, sob muitos aspectos, um costume estranho. Como raciocina o homem da história, as pessoas normalmente conhecem as próprias preferências melhor do que os outros, de modo que seria de esperar que todos preferissem dinheiro a transferências em espécie. Por exemplo, se o seu patrão trocasse seu salário por mercadorias, você provavelmente iria reclamar dessa forma de pagamento. Mas sua reação é muito diferente quando alguém que gosta de você faz isso.
     Uma interpretação do ato de presentear é que ele refletiria o que chamamos de informação assimétrica. O homem de nossa história tem uma informação particular que sua namorada adoraria saber: será que ele a ama de verdade? Escolher um bom presente é um sinal positivo de seu amor. Afinal, a escolha de um presente é algo que leva tempo, mas se alguém realmente ama sua namorada, escolher um presente pode ser algo prazeroso porque ele pensa nela o tempo todo. Mas, se não a ama, a escolha do presente será mais difícil. Portanto, presentear a sua namorada é uma forma de transmitir a informação de que você gosta dela. Dar dinheiro significa que você nem sequer se deu ao trabalho de tentar.
     A teoria da sinalização do presentear condiz com outra observação: as pessoas se preocupam mais com o costume quando a intensidade do afeto é questionável. Assim, dar dinheiro a um namorado ou namorada costuma ser má idéia. Mas quando estudantes universitários ganham um cheque de seus pais, muitas vezes não se ofendem. Isso porque o amor dos pais não é questionável, de modo que o presenteado não interpreta o presente em dinheiro como sinal de falta de afeto.
     O conceito de sinalização de mercado foi desenvolvido pelo economista americano e Prêmio Nobel de Economia de 2001, Michael Spence, que demonstrou que em alguns mercados os vendedores enviam sinais aos compradores, transmitindo informações a respeito da qualidade de um determinado produto. Sinalização, portanto, é toda ação praticada por uma parte informada (no nosso exemplo, o namorado) para revelar à parte desinformada (a namorada) informações particulares (que ele a ama).

Adaptado de Microeconomia, de Robert Pindyck e Daniel Rubinfeld (São Paulo, Makron Books, 1991) e Introdução à economia, de Gregory Mankiw (São Paulo, Pioneira Thomson Learning, 2005).

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Gabi!
Adorei esse post, que legal! adoro ler sobre essas teorias da cultura e dos costumes.
Poxa, essa coisa do dinheiro de presenté é muito bem verdade. Porque eu adoooro comprar presentes para as pessoas que eu amo. Pensar, analisar, escolher... é muito bom.
hohoh! se a gente for levar ao pé da letra, vemos que dar presentes é um costume beeem capitalista: se a pessoa que recebe não gostar nem usar, já era. Compraram simplesmente e acabou.
É que nem a fábula do design do descascador de batatas: quanto mais ele se parecesse com uma casca de batata, mais as pessoas jogariam fora e portanto mais as pessoas comprariam novos descascadores de batata. Portanto eles são amarelinhos e meio arredondados.
É triste, mas é a verdade (segundo a designer Lucy Niemeyer).
Beijos! :)

11:10 PM  

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