$

blog sobre Economia.

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Na real -- Comércio mundial em desequilíbrio

Clique nas imagens para ler.



quarta-feira, junho 21, 2006

Dumping e subsídios -- como eles prejudicam as possibilidades de comércio para os países pobres

     Em 1944, o economista inglês John Maynard Keynes argumentou: "Os preços econômicos adequados devem primeiro ser fixados, não em seus menores níveis possíveis, mas em um nível suficiente a ponto de proporcionar aos produtores uma alimentação adequada e outros padrões". Mas esse dito foi esquecido de lá pra cá. Nenhum setor do comércio mundial é mais distorcido do que a agricultura: são justamente os países industrializados que dominam os mercados globais, subsidiando seus produtores em US$ 245 bilhões (dados de 2000), quantia que representa cerca de 5 vezes o valor total anual dos fluxos de ajuda ao mundo em desenvolvimento.

     Graças aos subsídios estatais, União Européia e Estados Unidos estão exportando alguns produtos a preços muito inferiores aos custos de produção (prática conhecida como dumping). Por exemplo, a UE é a maior exportadora mundial de leite em pó desnatado e de açúcar refinado. Exporta a preços que representam, respectivamente, cerca de metade e um quinto dos custos de produção.

     O acordo antidumping da OMC, em vigência desde 1995, não conseguiu resolver o problema porque a manutenção de um processo nessa organização é demasiado cara para um país pobre. Na verdade, o acordo apenas piorou a situação. Os EUA, inclusive, elaboraram uma estratégia bastante imaginativa para utilizá-lo em seu favor: sob a legislação conhecida como Emenda Byrd, as autoridades aduaneiras têm ordem de cobrar impostos antidumping e, então, transferi-los para as empresas americanas alegando danos — com efeito, fornecendo-lhes um subsídio.

     Como são os países ricos que estabelecem o preço nos mercados internacionais, a concorrência torna-se muito desleal para os agricultores dos "países do sul". Não é à toa, portanto, que a pobreza rural responde por mais de dois terços da pobreza em todo o mundo.

     Tudo isso limita as possibilidades do comércio na luta pela redução da pobreza mundial. Segundo dados da Oxfam Internacional, organização que atua em mais de 80 países, um aumento de apenas 5% na participação dos países em desenvolvimento nas exportações mundiais geraria US$ 350 bilhões (isto é, 7 vezes mais do que as verbas que esses países recebem anualmente em forma de ajuda). Mesmo um aumento de apenas 1% na participação de cada região em desenvolvimento nas exportações mundiais já seria o suficiente para reduzir a pobreza mundial em 12%.

---

Saiba mais sobre dumping neste diagrama interativo:

terça-feira, junho 13, 2006

Pra quê Santo Antônio?

     A instrução tem conseqüências que não podem ser mensuradas apenas pela renda das pessoas. Há também alguns benefícios não-monetários, como constatou a revista do The New York Times de 7 de maio de 2000, através de uma pesquisa realizada com o público americano.
     Em um dos itens, perguntava-se às pessoas: "Você concorda ou não com a seguinte afirmativa: 'Às vezes me incomoda o fato de minha vida não ter corrido como eu esperava'?". Entre as pessoas cuja instrução se encerrou com o diploma da high school, 38% concordaram. Entre os de nível superior, apenas 28% concordaram. E a porcentagem caiu para 23% entre os que tiveram alguma instrução após o nível superior. A instrução está, pelo visto, relacionada com a satisfação geral com a vida.
     Parte dessa maior satisfação reflete a maior renda proporcionada pela instrução. Como escreveu Jane Austen no século XIX: "Uma grande renda é a melhor receita para a felicidade de que já ouvi falar". Mas a educação também leva à satisfação de outras maneiras.
     A pesquisa do Times também perguntou: "Você concorda ou não com a seguinte afirmativa: 'Hoje é mais difícil encontrar um amor verdadeiro na sociedade'?". Entre os que concluíram o nível médio, 67% responderam afirmativamente a essa colocação. Entre os graduados de nível superior, a porcentagem caiu para 53%. E entre os que têm algum curso de pós-graduação, apenas 39% concordaram. Aparentemente, a educação melhora não apenas as finanças, mas também a vida amorosa das pessoas.
     Portanto, neste dia de Santo Antônio, nada de colocar o santo de cabeça pra baixo: pegue um livro e vá estudar.

Adapatado de Introdução à economia, de Gregory Mankiw (São Paulo, Pioneira Thomson Learning, 2005).

quarta-feira, junho 07, 2006

Dia dos namorados e a teoria da sinalização

     Um homem está decidindo o que dar a sua namorada no dia 12 de junho: "Já sei", pensa ele, "vou lhe dar dinheiro. Afinal, não conheço seu gosto tão bem quanto ela mesma e, com o dinheiro, ela pode comprar o que preferir". No entanto, quando ele lhe entrega o dinheiro, ela se ofende. Convencida de que ele não a ama, termina o namoro.
     O que a economia tem a ver com isso?
     Se você parar para analisar, dar presentes é, sob muitos aspectos, um costume estranho. Como raciocina o homem da história, as pessoas normalmente conhecem as próprias preferências melhor do que os outros, de modo que seria de esperar que todos preferissem dinheiro a transferências em espécie. Por exemplo, se o seu patrão trocasse seu salário por mercadorias, você provavelmente iria reclamar dessa forma de pagamento. Mas sua reação é muito diferente quando alguém que gosta de você faz isso.
     Uma interpretação do ato de presentear é que ele refletiria o que chamamos de informação assimétrica. O homem de nossa história tem uma informação particular que sua namorada adoraria saber: será que ele a ama de verdade? Escolher um bom presente é um sinal positivo de seu amor. Afinal, a escolha de um presente é algo que leva tempo, mas se alguém realmente ama sua namorada, escolher um presente pode ser algo prazeroso porque ele pensa nela o tempo todo. Mas, se não a ama, a escolha do presente será mais difícil. Portanto, presentear a sua namorada é uma forma de transmitir a informação de que você gosta dela. Dar dinheiro significa que você nem sequer se deu ao trabalho de tentar.
     A teoria da sinalização do presentear condiz com outra observação: as pessoas se preocupam mais com o costume quando a intensidade do afeto é questionável. Assim, dar dinheiro a um namorado ou namorada costuma ser má idéia. Mas quando estudantes universitários ganham um cheque de seus pais, muitas vezes não se ofendem. Isso porque o amor dos pais não é questionável, de modo que o presenteado não interpreta o presente em dinheiro como sinal de falta de afeto.
     O conceito de sinalização de mercado foi desenvolvido pelo economista americano e Prêmio Nobel de Economia de 2001, Michael Spence, que demonstrou que em alguns mercados os vendedores enviam sinais aos compradores, transmitindo informações a respeito da qualidade de um determinado produto. Sinalização, portanto, é toda ação praticada por uma parte informada (no nosso exemplo, o namorado) para revelar à parte desinformada (a namorada) informações particulares (que ele a ama).

Adaptado de Microeconomia, de Robert Pindyck e Daniel Rubinfeld (São Paulo, Makron Books, 1991) e Introdução à economia, de Gregory Mankiw (São Paulo, Pioneira Thomson Learning, 2005).

segunda-feira, maio 29, 2006

Benefícios da beleza

     Atores bonitos sempre fizeram mais sucesso do que os de aparência média ou ruim. Em Hollywood, para ser um astro ou estrela de cinema, a beleza é a regra. É claro que, como toda regra tem exceção, de vez em quando aparece um James Cagney ou um Charles Bronson por lá, mas no geral os atores e atrizes bonitos são os que mais atraem público e, por isso mesmo, são podres de ricos.
     Há diversas maneiras de interpretar o "prêmio à beleza". Uma delas é tomar a boa aparência, por si só, como um tipo de talento inato que determina a produtividade e o salário. A boa aparência é útil em qualquer emprego em que os trabalhadores se apresentem publicamente, em especial atores, vendedores e garçons. A disposição da empresa para pagar mais aos trabalhadores atraentes apenas refletiria, assim, as preferências de sua clientela.
     Uma segunda interpretação é de que a beleza é uma medida indireta de outros tipos de talento. O quão atraente uma pessoa é depende de outros fatores além da hereditariedade: depende do corte de cabelo, do comportamento social e de outros atributos que as pessoas podem controlar. Uma pessoa bem-sucedida em projetar uma imagem atraente de si própria é provavelmente alguém inteligente que também é bem-sucedido em outras tarefas.
     Os economistas do trabalho Daniel Hamermesh e Jeff Biddle publicaram na American Economic Review de dezembro de 1994 um interessante estudo realizado a partir de dados de levantamentos feitos nos Estados Unidos e no Canadá. A metodologia utilizada foi a seguinte: primeiramente, nos levantamentos, diversos pesquisadores classificavam cada entrevistado de acordo com sua aparência física. Mais tarde, Hamermesh e Biddle examinaram em que medida os salários dos entrevistados dependiam dos determinantes-padrão (instrução, experiência etc.) e em que medida dependiam da aparência física.
     Hamermesh e Biddle descobriram que as pessoas consideradas mais atraentes do que a média ganham 5% a mais do que as de aparência apenas média. E estas, por sua vez, ganham entre 5% a 10% mais do que as consideradas menos atraentes do que a média. Foram encontrados resultados semelhantes tanto para homens quanto para mulheres.
     Mas se você, caro leitor, faz parte do grupo menos favorecido de pessoas menos atraentes do que a média, nem por isso deve se desesperar: não há nada que talento e dedicação não resolvam. Tomemos como exemplo, mais uma vez neste blog, o caso do nosso Ronaldinho Gaúcho. Ele ganha mais do que David Beckham (foto à direita), considerado um homem muito bonito. O salário anual de Ronaldinho é, de fato, tão elevado (28,47 milhões de dólares), que lhe permite melhorar bastante o visual, como, aliás, vem acontecendo desde aquele memorável chapéu no zagueiro da Venezuela na Copa América de 1999.

quinta-feira, maio 11, 2006

Evo Morales e a teoria dos jogos

Saiu um artigo muito interessante na imprensa sobre Evo Morales e a Teoria dos Jogos.

A Teoria dos Jogos se baseia em uma forma abstrata de raciocínio que surge da combinação entre matemática e lógica, e compara as apostas dos jogadores com os resultados finais dos jogos, com o fim de avaliar os ganhos e perdas de cada jogador e a eficácia das estratégias usadas por eles. Assim, aborda o comportamento "racionalmente correto" em situações de conflito nas quais os participantes intencionam ganhar. É uma teoria prescritiva.

Morales e a teoria dos jogos
José Alexandre Scheinkman
Folha de S. Paulo - 07/05/2006

    Pela terceira vez em 70 anos, a Bolívia nacionalizou suas reservas de petróleo e gás natural. Diferentemente das duas primeiras ocasiões, em que os principais alvos foram empresas norte-americanas, desta vez a maior vítima foi a Petrobras.
    A decisão da Petrobras de suspender, por enquanto, novos projetos na Bolívia é sensata. Mais ainda, é o único procedimento que protege os interesses dos seus acionistas, em particular dos minoritários, no Brasil e no exterior. A Petrobras tem ADRs listadas na Bolsa de Nova York e, por lei, seus diretores têm a obrigação de defender o patrimônio da empresa.
    Essa é uma boa notícia para todos os brasileiros. Se o presidente Lula quiser subsidiar a política de Evo Morales, terá que fazê-lo com recursos do Orçamento e não poderá esconder e dividir os custos, obrigando a Petrobras a pagar a conta. E, como os políticos relutam mais a gastar quando as despesas são transparentes, o preço final da atual política externa vai ser menor.
    Além de expropriar a propriedade das empresas estrangeiras, o governo de Morales quer renegociar o contrato vigente para o fornecimento de gás. Segundo esta Folha, autoridades bolivianas sugeriram elevar o preço em 45%. No médio prazo, seria muito danoso para o Brasil perder o acesso ao gás boliviano, que constitui 50% do consumo nacional. Por outro lado, a exportação de gás natural representa 18% do PIB da Bolívia, e a sua suspensão, mesmo que temporária, arrisca jogar o país numa crise econômica profunda.
    Situações dessa natureza em que as diferentes partes barganham para chegar a um acordo são estudadas sob diversas óticas. Os economistas utilizam a teoria dos jogos para tentar entender as forças que influenciam o resultado final.
    O estudo da barganha utilizando a teoria dos jogos foi iniciado na metade do século passado pelo futuro Prêmio Nobel e personagem do filme Uma mente brilhante, John Nash. Os trabalhos mais recentes nesta literatura enfatizam que cada parte na negociação tem conhecimento imperfeito dos objetivos e custos do adversário. Por isso, é do interesse de cada participante enviar um sinal exagerado do seu custo de aceitar um pacto menos favorável. Da mesma forma, é também do interesse das partes passar a impressão de que possuem alternativas relativamente boas a um acordo. Em muitos casos, vale a pena tomar medidas que dificultem fazer certas concessões no futuro.
    Nesse contexto, entende-se o espetáculo midiático da ocupação militar das instalações petrolíferas, que tornou muito difícil qualquer recuo na expropriação. As referências assíduas das autoridades bolivianas a promessas de campanha também fortalecem a sua posição de barganha. O mesmo ocorre quando o presidente Morales aparece com o "irmão maior" Chávez -nesta quinta feira passada, por cortesia do presidente Lula-, porque a Venezuela possui os recursos técnicos e financeiros para ajudar a Bolívia se, ao contrário do esperado, houver rompimento com o Brasil. O presidente da Petrobras também emite os sinais adequados quando lembra as obrigações da empresa com seus acionistas e com as distribuidoras.
    Infelizmente, não pode se dizer o mesmo sobre as afirmações do presidente Lula ou de seus auxiliares em política externa, que dão a impressão de desejar uma composição a qualquer preço. Sem optar para o confronto inútil, os nossos dirigentes precisam dar declarações públicas que prometam que os detalhes do acordo determinarão o futuro das relações entre os dois países.
    É surpreendente, mas os bolivianos parecem compreender melhor como conduzir essa negociação.

--------------------------------------------------------------------------------
José Alexandre Scheinkman, 58, professor de economia na Universidade Princeton (EUA), escreve quinzenalmente aos domingos na coluna.
e-mail: jose.scheinkman@gmail.com

segunda-feira, maio 01, 2006

Ronaldinho Gaúcho e os supersalários

     Ele é o jogador de futebol com a marca mais valiosa do planeta, com o maior seguro contra invalidez do planeta e, agora, o que mais ganha dinheiro no planeta: Ronaldinho Gaúcho ultrapassou o inglês David Beckham no ranking da renda dos atletas feito pela revista France Football e divulgado no último dia 24.

     Ronaldinho foi eleito pela FIFA, em 2005, o melhor jogador do mundo pela segunda vez consecutiva, desta vez com margem recorde na história da premiação. O craque do Barcelona já chegou a ser aplaudido de pé pela torcida do arqui-rival Real Madrid. Sendo assim, é natural que ele seja o jogador mais bem pago, como é normal que existam diferenças de renda dentro de cada ocupação. Bons marceneiros ganham mais do que marceneiros medíocres. Os profissionais têm diferentes graus de talento e dedicação e essas diferenças se refletem em diferenças de renda. Mas os melhores marceneiros não ganham os milhões de dólares pagos aos melhores atores e atletas. O que explica essa diferença?

     Enquanto a maioria das pessoas que joga futebol o faz de graça, com um baba aos domingos, Ronaldinho Gaúcho ganha 23 milhões de euros (28,47 milhões de dólares) por ano. Da mesma forma, enquanto a maior parte dos atores ganha pouco e faz bicos para complementar a renda, a atriz de Hollywood Reese Witherspoon (foto ao lado), a mais bem paga do mundo, receberá 29 milhões de dólares para atuar no filme de horror Our family trouble.

     Ronaldinho Gaúcho e Reese Witherspoon são superastros em seus campos, e seu grande apelo ao público se reflete em supersalários. É preciso avaliar as características especiais dos mercados em que eles vendem seus serviços. Os superastros e seus supersalários surgem em mercados que apresentam duas características:

* Todos os clientes do mercado querem desfrutar do bem ofertado pelo melhor produtor.
* O bem é produzido com uma tecnologia que possibilita ao melhor produtor ofertá-lo a todos os clientes a um baixo custo.

     Se Ronaldinho Gaúcho é o melhor jogador do mundo, então todos irão querer assistir aos seus jogos, e assistir o quíntuplo de partidas com um jogador que tenha um quinto do talento de Ronaldinho não é exatamente um bom substituto. Além disso, é possível a todos assistir a uma partida de futebol com Ronaldinho, pela televisão, ou a um filme com Reese Witherspoon, no cinema ou na TV. Dessa forma, Reese Witherspoon e Ronaldinho Gaúcho podem oferecer seus serviços a milhões de pessoas ao mesmo tempo.

     É por isso que não há superastros da marcenaria: por mais dinâmico que seja o marceneiro, ele só pode oferecer seu serviço a um número bastante limitado de clientes. As pessoas preferem empregar o melhor marceneiro, que obtém, assim, um salário mais elevado do que a média, mas nada que atinja a cifra dos milhões de dólares.