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blog sobre Economia.

quarta-feira, junho 21, 2006

Dumping e subsídios -- como eles prejudicam as possibilidades de comércio para os países pobres

     Em 1944, o economista inglês John Maynard Keynes argumentou: "Os preços econômicos adequados devem primeiro ser fixados, não em seus menores níveis possíveis, mas em um nível suficiente a ponto de proporcionar aos produtores uma alimentação adequada e outros padrões". Mas esse dito foi esquecido de lá pra cá. Nenhum setor do comércio mundial é mais distorcido do que a agricultura: são justamente os países industrializados que dominam os mercados globais, subsidiando seus produtores em US$ 245 bilhões (dados de 2000), quantia que representa cerca de 5 vezes o valor total anual dos fluxos de ajuda ao mundo em desenvolvimento.

     Graças aos subsídios estatais, União Européia e Estados Unidos estão exportando alguns produtos a preços muito inferiores aos custos de produção (prática conhecida como dumping). Por exemplo, a UE é a maior exportadora mundial de leite em pó desnatado e de açúcar refinado. Exporta a preços que representam, respectivamente, cerca de metade e um quinto dos custos de produção.

     O acordo antidumping da OMC, em vigência desde 1995, não conseguiu resolver o problema porque a manutenção de um processo nessa organização é demasiado cara para um país pobre. Na verdade, o acordo apenas piorou a situação. Os EUA, inclusive, elaboraram uma estratégia bastante imaginativa para utilizá-lo em seu favor: sob a legislação conhecida como Emenda Byrd, as autoridades aduaneiras têm ordem de cobrar impostos antidumping e, então, transferi-los para as empresas americanas alegando danos — com efeito, fornecendo-lhes um subsídio.

     Como são os países ricos que estabelecem o preço nos mercados internacionais, a concorrência torna-se muito desleal para os agricultores dos "países do sul". Não é à toa, portanto, que a pobreza rural responde por mais de dois terços da pobreza em todo o mundo.

     Tudo isso limita as possibilidades do comércio na luta pela redução da pobreza mundial. Segundo dados da Oxfam Internacional, organização que atua em mais de 80 países, um aumento de apenas 5% na participação dos países em desenvolvimento nas exportações mundiais geraria US$ 350 bilhões (isto é, 7 vezes mais do que as verbas que esses países recebem anualmente em forma de ajuda). Mesmo um aumento de apenas 1% na participação de cada região em desenvolvimento nas exportações mundiais já seria o suficiente para reduzir a pobreza mundial em 12%.

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Saiba mais sobre dumping neste diagrama interativo:

terça-feira, junho 13, 2006

Pra quê Santo Antônio?

     A instrução tem conseqüências que não podem ser mensuradas apenas pela renda das pessoas. Há também alguns benefícios não-monetários, como constatou a revista do The New York Times de 7 de maio de 2000, através de uma pesquisa realizada com o público americano.
     Em um dos itens, perguntava-se às pessoas: "Você concorda ou não com a seguinte afirmativa: 'Às vezes me incomoda o fato de minha vida não ter corrido como eu esperava'?". Entre as pessoas cuja instrução se encerrou com o diploma da high school, 38% concordaram. Entre os de nível superior, apenas 28% concordaram. E a porcentagem caiu para 23% entre os que tiveram alguma instrução após o nível superior. A instrução está, pelo visto, relacionada com a satisfação geral com a vida.
     Parte dessa maior satisfação reflete a maior renda proporcionada pela instrução. Como escreveu Jane Austen no século XIX: "Uma grande renda é a melhor receita para a felicidade de que já ouvi falar". Mas a educação também leva à satisfação de outras maneiras.
     A pesquisa do Times também perguntou: "Você concorda ou não com a seguinte afirmativa: 'Hoje é mais difícil encontrar um amor verdadeiro na sociedade'?". Entre os que concluíram o nível médio, 67% responderam afirmativamente a essa colocação. Entre os graduados de nível superior, a porcentagem caiu para 53%. E entre os que têm algum curso de pós-graduação, apenas 39% concordaram. Aparentemente, a educação melhora não apenas as finanças, mas também a vida amorosa das pessoas.
     Portanto, neste dia de Santo Antônio, nada de colocar o santo de cabeça pra baixo: pegue um livro e vá estudar.

Adapatado de Introdução à economia, de Gregory Mankiw (São Paulo, Pioneira Thomson Learning, 2005).

quarta-feira, junho 07, 2006

Dia dos namorados e a teoria da sinalização

     Um homem está decidindo o que dar a sua namorada no dia 12 de junho: "Já sei", pensa ele, "vou lhe dar dinheiro. Afinal, não conheço seu gosto tão bem quanto ela mesma e, com o dinheiro, ela pode comprar o que preferir". No entanto, quando ele lhe entrega o dinheiro, ela se ofende. Convencida de que ele não a ama, termina o namoro.
     O que a economia tem a ver com isso?
     Se você parar para analisar, dar presentes é, sob muitos aspectos, um costume estranho. Como raciocina o homem da história, as pessoas normalmente conhecem as próprias preferências melhor do que os outros, de modo que seria de esperar que todos preferissem dinheiro a transferências em espécie. Por exemplo, se o seu patrão trocasse seu salário por mercadorias, você provavelmente iria reclamar dessa forma de pagamento. Mas sua reação é muito diferente quando alguém que gosta de você faz isso.
     Uma interpretação do ato de presentear é que ele refletiria o que chamamos de informação assimétrica. O homem de nossa história tem uma informação particular que sua namorada adoraria saber: será que ele a ama de verdade? Escolher um bom presente é um sinal positivo de seu amor. Afinal, a escolha de um presente é algo que leva tempo, mas se alguém realmente ama sua namorada, escolher um presente pode ser algo prazeroso porque ele pensa nela o tempo todo. Mas, se não a ama, a escolha do presente será mais difícil. Portanto, presentear a sua namorada é uma forma de transmitir a informação de que você gosta dela. Dar dinheiro significa que você nem sequer se deu ao trabalho de tentar.
     A teoria da sinalização do presentear condiz com outra observação: as pessoas se preocupam mais com o costume quando a intensidade do afeto é questionável. Assim, dar dinheiro a um namorado ou namorada costuma ser má idéia. Mas quando estudantes universitários ganham um cheque de seus pais, muitas vezes não se ofendem. Isso porque o amor dos pais não é questionável, de modo que o presenteado não interpreta o presente em dinheiro como sinal de falta de afeto.
     O conceito de sinalização de mercado foi desenvolvido pelo economista americano e Prêmio Nobel de Economia de 2001, Michael Spence, que demonstrou que em alguns mercados os vendedores enviam sinais aos compradores, transmitindo informações a respeito da qualidade de um determinado produto. Sinalização, portanto, é toda ação praticada por uma parte informada (no nosso exemplo, o namorado) para revelar à parte desinformada (a namorada) informações particulares (que ele a ama).

Adaptado de Microeconomia, de Robert Pindyck e Daniel Rubinfeld (São Paulo, Makron Books, 1991) e Introdução à economia, de Gregory Mankiw (São Paulo, Pioneira Thomson Learning, 2005).