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blog sobre Economia.

segunda-feira, maio 29, 2006

Benefícios da beleza

     Atores bonitos sempre fizeram mais sucesso do que os de aparência média ou ruim. Em Hollywood, para ser um astro ou estrela de cinema, a beleza é a regra. É claro que, como toda regra tem exceção, de vez em quando aparece um James Cagney ou um Charles Bronson por lá, mas no geral os atores e atrizes bonitos são os que mais atraem público e, por isso mesmo, são podres de ricos.
     Há diversas maneiras de interpretar o "prêmio à beleza". Uma delas é tomar a boa aparência, por si só, como um tipo de talento inato que determina a produtividade e o salário. A boa aparência é útil em qualquer emprego em que os trabalhadores se apresentem publicamente, em especial atores, vendedores e garçons. A disposição da empresa para pagar mais aos trabalhadores atraentes apenas refletiria, assim, as preferências de sua clientela.
     Uma segunda interpretação é de que a beleza é uma medida indireta de outros tipos de talento. O quão atraente uma pessoa é depende de outros fatores além da hereditariedade: depende do corte de cabelo, do comportamento social e de outros atributos que as pessoas podem controlar. Uma pessoa bem-sucedida em projetar uma imagem atraente de si própria é provavelmente alguém inteligente que também é bem-sucedido em outras tarefas.
     Os economistas do trabalho Daniel Hamermesh e Jeff Biddle publicaram na American Economic Review de dezembro de 1994 um interessante estudo realizado a partir de dados de levantamentos feitos nos Estados Unidos e no Canadá. A metodologia utilizada foi a seguinte: primeiramente, nos levantamentos, diversos pesquisadores classificavam cada entrevistado de acordo com sua aparência física. Mais tarde, Hamermesh e Biddle examinaram em que medida os salários dos entrevistados dependiam dos determinantes-padrão (instrução, experiência etc.) e em que medida dependiam da aparência física.
     Hamermesh e Biddle descobriram que as pessoas consideradas mais atraentes do que a média ganham 5% a mais do que as de aparência apenas média. E estas, por sua vez, ganham entre 5% a 10% mais do que as consideradas menos atraentes do que a média. Foram encontrados resultados semelhantes tanto para homens quanto para mulheres.
     Mas se você, caro leitor, faz parte do grupo menos favorecido de pessoas menos atraentes do que a média, nem por isso deve se desesperar: não há nada que talento e dedicação não resolvam. Tomemos como exemplo, mais uma vez neste blog, o caso do nosso Ronaldinho Gaúcho. Ele ganha mais do que David Beckham (foto à direita), considerado um homem muito bonito. O salário anual de Ronaldinho é, de fato, tão elevado (28,47 milhões de dólares), que lhe permite melhorar bastante o visual, como, aliás, vem acontecendo desde aquele memorável chapéu no zagueiro da Venezuela na Copa América de 1999.

quinta-feira, maio 11, 2006

Evo Morales e a teoria dos jogos

Saiu um artigo muito interessante na imprensa sobre Evo Morales e a Teoria dos Jogos.

A Teoria dos Jogos se baseia em uma forma abstrata de raciocínio que surge da combinação entre matemática e lógica, e compara as apostas dos jogadores com os resultados finais dos jogos, com o fim de avaliar os ganhos e perdas de cada jogador e a eficácia das estratégias usadas por eles. Assim, aborda o comportamento "racionalmente correto" em situações de conflito nas quais os participantes intencionam ganhar. É uma teoria prescritiva.

Morales e a teoria dos jogos
José Alexandre Scheinkman
Folha de S. Paulo - 07/05/2006

    Pela terceira vez em 70 anos, a Bolívia nacionalizou suas reservas de petróleo e gás natural. Diferentemente das duas primeiras ocasiões, em que os principais alvos foram empresas norte-americanas, desta vez a maior vítima foi a Petrobras.
    A decisão da Petrobras de suspender, por enquanto, novos projetos na Bolívia é sensata. Mais ainda, é o único procedimento que protege os interesses dos seus acionistas, em particular dos minoritários, no Brasil e no exterior. A Petrobras tem ADRs listadas na Bolsa de Nova York e, por lei, seus diretores têm a obrigação de defender o patrimônio da empresa.
    Essa é uma boa notícia para todos os brasileiros. Se o presidente Lula quiser subsidiar a política de Evo Morales, terá que fazê-lo com recursos do Orçamento e não poderá esconder e dividir os custos, obrigando a Petrobras a pagar a conta. E, como os políticos relutam mais a gastar quando as despesas são transparentes, o preço final da atual política externa vai ser menor.
    Além de expropriar a propriedade das empresas estrangeiras, o governo de Morales quer renegociar o contrato vigente para o fornecimento de gás. Segundo esta Folha, autoridades bolivianas sugeriram elevar o preço em 45%. No médio prazo, seria muito danoso para o Brasil perder o acesso ao gás boliviano, que constitui 50% do consumo nacional. Por outro lado, a exportação de gás natural representa 18% do PIB da Bolívia, e a sua suspensão, mesmo que temporária, arrisca jogar o país numa crise econômica profunda.
    Situações dessa natureza em que as diferentes partes barganham para chegar a um acordo são estudadas sob diversas óticas. Os economistas utilizam a teoria dos jogos para tentar entender as forças que influenciam o resultado final.
    O estudo da barganha utilizando a teoria dos jogos foi iniciado na metade do século passado pelo futuro Prêmio Nobel e personagem do filme Uma mente brilhante, John Nash. Os trabalhos mais recentes nesta literatura enfatizam que cada parte na negociação tem conhecimento imperfeito dos objetivos e custos do adversário. Por isso, é do interesse de cada participante enviar um sinal exagerado do seu custo de aceitar um pacto menos favorável. Da mesma forma, é também do interesse das partes passar a impressão de que possuem alternativas relativamente boas a um acordo. Em muitos casos, vale a pena tomar medidas que dificultem fazer certas concessões no futuro.
    Nesse contexto, entende-se o espetáculo midiático da ocupação militar das instalações petrolíferas, que tornou muito difícil qualquer recuo na expropriação. As referências assíduas das autoridades bolivianas a promessas de campanha também fortalecem a sua posição de barganha. O mesmo ocorre quando o presidente Morales aparece com o "irmão maior" Chávez -nesta quinta feira passada, por cortesia do presidente Lula-, porque a Venezuela possui os recursos técnicos e financeiros para ajudar a Bolívia se, ao contrário do esperado, houver rompimento com o Brasil. O presidente da Petrobras também emite os sinais adequados quando lembra as obrigações da empresa com seus acionistas e com as distribuidoras.
    Infelizmente, não pode se dizer o mesmo sobre as afirmações do presidente Lula ou de seus auxiliares em política externa, que dão a impressão de desejar uma composição a qualquer preço. Sem optar para o confronto inútil, os nossos dirigentes precisam dar declarações públicas que prometam que os detalhes do acordo determinarão o futuro das relações entre os dois países.
    É surpreendente, mas os bolivianos parecem compreender melhor como conduzir essa negociação.

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José Alexandre Scheinkman, 58, professor de economia na Universidade Princeton (EUA), escreve quinzenalmente aos domingos na coluna.
e-mail: jose.scheinkman@gmail.com

segunda-feira, maio 01, 2006

Ronaldinho Gaúcho e os supersalários

     Ele é o jogador de futebol com a marca mais valiosa do planeta, com o maior seguro contra invalidez do planeta e, agora, o que mais ganha dinheiro no planeta: Ronaldinho Gaúcho ultrapassou o inglês David Beckham no ranking da renda dos atletas feito pela revista France Football e divulgado no último dia 24.

     Ronaldinho foi eleito pela FIFA, em 2005, o melhor jogador do mundo pela segunda vez consecutiva, desta vez com margem recorde na história da premiação. O craque do Barcelona já chegou a ser aplaudido de pé pela torcida do arqui-rival Real Madrid. Sendo assim, é natural que ele seja o jogador mais bem pago, como é normal que existam diferenças de renda dentro de cada ocupação. Bons marceneiros ganham mais do que marceneiros medíocres. Os profissionais têm diferentes graus de talento e dedicação e essas diferenças se refletem em diferenças de renda. Mas os melhores marceneiros não ganham os milhões de dólares pagos aos melhores atores e atletas. O que explica essa diferença?

     Enquanto a maioria das pessoas que joga futebol o faz de graça, com um baba aos domingos, Ronaldinho Gaúcho ganha 23 milhões de euros (28,47 milhões de dólares) por ano. Da mesma forma, enquanto a maior parte dos atores ganha pouco e faz bicos para complementar a renda, a atriz de Hollywood Reese Witherspoon (foto ao lado), a mais bem paga do mundo, receberá 29 milhões de dólares para atuar no filme de horror Our family trouble.

     Ronaldinho Gaúcho e Reese Witherspoon são superastros em seus campos, e seu grande apelo ao público se reflete em supersalários. É preciso avaliar as características especiais dos mercados em que eles vendem seus serviços. Os superastros e seus supersalários surgem em mercados que apresentam duas características:

* Todos os clientes do mercado querem desfrutar do bem ofertado pelo melhor produtor.
* O bem é produzido com uma tecnologia que possibilita ao melhor produtor ofertá-lo a todos os clientes a um baixo custo.

     Se Ronaldinho Gaúcho é o melhor jogador do mundo, então todos irão querer assistir aos seus jogos, e assistir o quíntuplo de partidas com um jogador que tenha um quinto do talento de Ronaldinho não é exatamente um bom substituto. Além disso, é possível a todos assistir a uma partida de futebol com Ronaldinho, pela televisão, ou a um filme com Reese Witherspoon, no cinema ou na TV. Dessa forma, Reese Witherspoon e Ronaldinho Gaúcho podem oferecer seus serviços a milhões de pessoas ao mesmo tempo.

     É por isso que não há superastros da marcenaria: por mais dinâmico que seja o marceneiro, ele só pode oferecer seu serviço a um número bastante limitado de clientes. As pessoas preferem empregar o melhor marceneiro, que obtém, assim, um salário mais elevado do que a média, mas nada que atinja a cifra dos milhões de dólares.